Autor: Edson Xavier. Data: 09/11/2014
Conceito de Antropologia
Antropologia: vem do grego anthropos – que significa homem, ser humano, e logos – que significa estudo, ciência/conhecimento.
É a ciência preocupada em estudar o homem e a humanidade de maneira abrangente em todas as suas actividades e comportamento. A Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural.
A antropologia é uma ciência social surgida no século XVIII. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Porém, foi somente no século XIX que se organizou como disciplina científica e passa a ser ciência estudo do ser humano.
Campos da Antropologia
A Antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto; abrange:
• O espaço: toda a terra habitada;
• O tempo: pelo menos dois milhões de anos;
• Todas as populações socialmente organizadas.
Divide-se em várias áreas de estudo, com objectivos definidos e interesses teóricos próprios, de entre elas:
• Antropologia Física (ou Biológica): tem como objectivo estudar o ser humano, a sua natureza e a sua condição física, ou seja, estuda aspectos genéticos e biológicos do homem.
• Antropologia Cultural: estuda as relações dos seres humanos e o seu comportamento, este homem como fazedor da cultura.
• Antropologia Social: organização social e política, parentesco, instituições sociais.
• Arqueologia: estuda os vestígios do passado do homem.
Objecto de Estudo de Antropologia
A Antropologia estuda o homem enquanto ser biológico, social e cultural.
Objectivos da Antropologia
Antropologia moderna se desenvolve no séc. XVI com objectivos:
• Descobrir as culturas distintas (África, Ásia, América) que iria facilitar a exploração desses países.
Método de Pesquisa Antropológica
O método etnográfico - corresponde aos primeiros estágios da pesquisa de campo: observação (directa, indirecta ou participante) e descrição do trabalho de campo através das suas anotações no chamado diário de campo. É um trabalho fundamentalmente descritivo.
O método etnológico - após ter-se tomado o maior número de informações através do método etnográfico, no tempo e no espaço procede-se à comparação, para daí tirar as inferências. A etnologia se propõe a problematizar as diferenças e similaridades entre diversas culturas, sociedades, agrupamentos, apontando para contribuições no estudo do comportamento humano.
Relação da Antropologia com outras ciências
Antropologia e Geografia – a localização geográfica de uma aldeia de uma povoação determina a respeito deste povo em relação as suas necessidades. Ambas ciências estão, além disso, relacionadas com a ecologia humana.
Antropologia e Sociologia – a antropologia estuda os seres humanos, a sociologia estuda a sociedade.
Antropologia e História – a história estuda o passado e o presente do homem.
Antropologia e Direito – a lei tem que reconhecer a cultura de um povo.
Antropologia e Psicologia – as relações entre essas duas ciências são bastantes estreitas, uma vez que ambas têm como foco de interesse o comportamento humano. A Antropologia ocupa-se do comportamento grupal e a Psicologia do comportamento individual.
Correntes Antropológicas
Evolucionismo
Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígenes eram tidas como exemplares “mais primitivos”. DARWIN é o seu representante máximo.
Esta visão usava o conceito de “civilização” para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos.
Bases ideológicas do evolucionismo
1 – Diversificação das espécies
2 – Aperfeiçoamento constante – saem do estágio mais simples para o complexo.
As sociedades evoluíram por influências do ambiente, desenvolveram-se em 3 estágios:
• Selvagem;
• Balbário;
• Civilização.
Corrente evolucionista defendia que os mais fortes dominam os mais fracos, o evolucionismo vai contribuir para a colonização.
No século XIX as sociedades africanas eram conhecidas como sociedades sem história, sendo primitivas. A Antropologia tentava buscar o que é exótico, com objectivo de descobrir os hábitos e costumes.
Antropologia no senso comum
• Força favorável – os europeus tinham uma cultura civilizada, eram os fortes e os africanos tinham uma cultura selvagem, eram fracos com cultura baixa.
• Necessidades da minoria – os europeus tinham necessidade de dominar as necessidades baixas, os africanos não tinham cultura, eram selvagens, os europeus tinham como objectivo de evangelizar os africanos.
Impacto
As missões começaram a registar as culturas africanas, a acção missionária definiu categoricamente os modelos de civilização:
1º Modelo: os africanos eram pagãos – as missões tinham objectivos de mudar a mente dos africanos para passarem a ser civilizados, ajudar a desenvolver-se.
África é o berço da humanidade, o Homem origina-se na África, desloca-se para Europa com objectivo de civilizar-se e volta na África para civilizar os seus antepassados.
Penetração imperialista
Introduziu novos hábitos africanos e punha novos valores aos africanos. Os europeus se beneficiavam de recursos inexplorados e os africanos se beneficiavam da civilização.
Os estudos antropológicos realizados nos tempos coloniais sobre os povos africanos dedicavam-se apenas a fisionomia e os europeus não faziam isso para melhor desenvolver, nem interagir com esta população mas sim para conhecer as suas diversidades étnicas heterogeneidade para explorar.
No evolucionismo defendia que “outro” era a projecção do antepassado, o europeu deveria ser sujeito com a missão civilizadora. A corrente que influenciou a colonização foi o evolucionismo.
Difusionismo
A Antropologia Difusionista reagiu ao evolucionismo e foi sua contemporânea.
Privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. O difusionismo era uma corrente problemática para eles: a cultura sai de um ponto e vai se estender noutros pontos, é porque surgem um contraste.
Estruturalismo
A Antropologia estrutural nasce na década de 1940. O seu grande teórico é Claude Lévi-Strauss. Centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentido. A cultura é a composição de pequenas componentes que forma a estrutura.
Funcionalismo
O Funcionalismo inspirava-se na obra de Durkheim. Advogava um estreito paralelismo entre as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e conservação) porque em ambos os casos a harmonia dependeria da inter-dependência funcional das partes. A função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental, dentro de um sistema de relações sociais. Para Durkheim os factores sociais deveriam ser estudados como “coisas”, com uma existência independente da consciência de pessoas individuais que compõe a sociedade. É a função de cada situação que determina uma coisa, tudo se desenvolve de acordo com a função.
Antropologia em Moçambique (pós-colonial)
No período colonial os estudos antropológicos eram virados para outro (africano), com finalidade de conhecer a realidade social para melhor dominar.
Pós-colonial
Antropologia foi usada para melhor dominar o território, era vista como uma disciplina colonial por isso que não se podia introduzir no currículo.
Dinamismo e mudança cultural
Características básicas da Cultura
• A cultura é simbólica
Possui um conjunto de significados sistematizados e que podem ser transmitidos por aquele que utiliza, seja o emissor seja o receptor;
• A cultura é social
A cultura é social porque ela se encontra dentro de uma sociedade;
• A cultura é dinâmica
É dinâmica por apresentar mobilidade e mudanças;
• A cultura é estável
É estável porque regista um tempo, uma tradição e uma institucionalização de padrões de comportamento;
• A cultura é selectiva
A cultura é seleccionadora de padrões de comportamentos transmitidos de geração em geração, alguns são rejeitados e outros novos são integrados. Reforça o processo contínuo de reformulações;
• A cultura é universal
Por ser ampla atinge a todos. Verificamos que não existe sujeito sem a cultura;
Processo de dinamismo cultural
A dinâmica cultural não é um processo homogéneo em todas as sociedades. Nalgumas, ela ocorre de forma lenta e parcial e noutras ela acontece de maneira acelerada e profunda.
A dinâmica cultural é um processo que se manifesta através dos seguintes elementos:
• Inculturação;
• Aculturação;
• Desculturação.
Inculturação é o processo de aprendizagem permanente através do qual o indivíduo adquire os elementos culturais da sua sociedade, desde o nascimento até a morte.
Aculturação
Diz respeito à aproximação, isto é, à convivência entre grupos de indivíduos com culturas diferentes e às mudanças que resultam dessa mesma convivência.
Desculturação
É um processo que consiste na perda ou destruição parcial ou total de uma cultura, causada pelo seu contacto com outras culturas.
Exemplo de casos que ocorrem a desculturação: escravatura, colonialismo.
Cultura Material – é uma cultura palpável. Ex: missangas, cabaças.
Cultura Imaterial – não é palpável, abrange todos aspectos não materiais da sociedade. Ex: a crença, hábitos, costumes.
Cultura Real – é aquela que existe ou seja, aquilo que nós fazemos.
Cultura Ideal – é aquela que não existe na real, aquilo que temos na mente e que deveríamos fazer.
Conceito Antropológico de Cultura
Cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Segundo TYLOR
Tradição e identidade cultural
Identidade cultural – são culturas e tradições de uma região, ou seja, é a unificação e confirmação de traços comuns existentes dentro de uma nação. Ex: a língua é elemento de transmissão da cultura de um povo. Ela caracteriza a identidade cultural.
A identidade cultural caracteriza as pessoas pelo modo de agir, de falar é como se as classificasse a partir dos modos específicos de sua cultura.
Sistema de parentesco em Moçambique
Se, por um lado, o parentesco constitui o sistema das relações de produção, por outro lado, ele é o conjunto de laços que une geneticamente (por filiação ou descendência) ou voluntariamente (por aliança ou pacto de sangue) um certo número de indivíduos.
Parentesco é essencialmente uma relação social e nunca coincide completamente com a consanguinidade, isto porque, com o parentesco biológico, cada indivíduo teria efectivamente um número muito elevado de parentes.
Para que o parentesco possa ser um princípio lógico de classificação quer de uns indivíduos em relação a outros, é necessário que nem todos os consanguíneos sejam reconhecidos como tal. Certas categorias devem ser excluídas do parentesco.
Assim, pode-se considerar apenas uma linhagem com a exclusão da outra, isto é, uma filiação unilinear em linha paterna ou materna. Também pode-se reconhecer ao mesmo tempo o parentesco do lado paterno e do lado materno, constituindo filiação bilateral.
Considera-se linhagem um grupo de parentes que descendia de um antepassado comum através de uma filiação paternal ou maternal.
Em Moçambique, na definição do parentesco, o princípio mais generalizado é o da filiação unilinear, isto é, privilegia-se uma única linha, podendo ser materna (Sul de Moçambique), onde o parentesco se transmite pela linha do pai, ou seja, o parentesco é transmitido ente homens, de pai para filho, perdendo-se nas mulheres, ou materna (Norte de Moçambique), onde o parentesco transmite-se pela mãe, ou seja o parentesco é transmitido entre mulheres, da mãe para filha, perdendo-se nos homens.
Parentesco Macua
Segundo FERNANDE, o termo macua tem uma certa significação de desprezo. Com certa significação na linguagem corrente Makhua, significa aquele que é selvagem, a que como ratos, aquele que anda nú. Designa também aquele que vem do interior do país.
Origem Macua
A origem do povo macua explica-se por duas vertentes: mítica e histórica.
A vertente mítica – diz que o povo macua tem origem no monte namuli.
Vertente histórica – diz que o povo macua faz parte dos primeiros povos bantus.
Tipos de Parentesco Macua
Linha recta – são consanguíneos: há vínculos entre os descendentes e ascendentes de um progenitor comum. Ex: bisavôs, avós, pais, filhos, bisnetos.
Linha colateral – são irmãos, primos, tios, sobrinhos. Na linha colateral embora não descendendo um do outro são descendentes de um tronco central comum. O parentesco começa no 2º grau. Ex: irmãos, tios, sobrinhos do 3º grau.
Bibliográfica
BERNARDI, Bernardo, A Introdução aos Estudos Etno - Antropológicos, Edições 70, 1998
COPAM, Roger, Antropologia: ciência das sociedades primitivas, Ed. 70,1970
EVAN, Pritchard, História do pensamento antropológico, Ed. 70, 1971
LERMA, Francisco, Antropologia Cultural, Guia para o Estudo, Paulinas Editorial,
3ª Edição, 1999
Pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia
SIBINDE, Verónica J. MARIME, Benedito. Guia de Estudo de Antropologia da Educação 1ª
Edição, Maputo, 2010